Cinco Almas

Cinco Almas
Jbcampos

Novela da vida:
Mário & Maria = mentores
Carlos = protagonista
Augusto & Vera = co-adjuvantes

Algumas coincidências nas vidas de humanos, que não se atrevem analisar as leis de causas e efeitos, bem, somente lendo e prestando atenção poder-se-á inteirar do assunto aqui descrito.
Boa leitura.
O autor.

Lá longe, na linha do horizonte, erguia-se um pequeno monte, sempre envolto em nuvens de puro ar, no qual sobrepuseram uma bela vivenda como se fora o próprio brasão da família “Carvalhais”, que ao longe parecia flutuar...
Cepa de relevada importância local.
Aquela bela moradia distava-se a 15 km da cidade mais pró-xima.
Por motivo quase ignorado, aquela família foi desaparecendo, e por herdade, aquele sítio de 50 alqueires ficou para Mário, que contraiu matrimônio com a bela Maria.
Antes do nascimento de Carlos, até mesmo antes do casa-mento, o casal conhecera um médico dependente de drogas, Dr. Chagas, grande cirurgião, e aqui começa a saga do casal: Mário & Maria.
Dr. Chagas, um dia qualquer, os convidou para um almoço em seu lar, mesa farta, família unida, e o elemento velado e destruidor de seres humanos, a droga.
Chagas estava em dívida com uma horda de traficantes e, juramentado de morte, estava à procura de uma tábua de salvação.
O cirurgião Chagas, estava observando os jovens enamora-dos, que na mais pura inocência foram emaranhados nas teias do médico desesperado.
O faustuoso almoço culminou numa calorosa amizade, porém, logo viria o pedido de salvação.
Mário tinha um tio bem mais velho que seu pai, com quem se encontrara raras vezes na vida, portanto, irmão de seu pai.
Bem, o fato era assim:
Marcos Chagas, o tio.
Juarez Chagas, o pai
Marcos era traficante de drogas, e fornecedor de cocaína ao Dr. Chagas, um primo distante.
E, o médico, acabou por envolver Mário na senda da droga.
Veja como, o pensamento ardiloso e maculado do usuário, não respeita a fronteira de nenhuma ética.
O dependente de droga faz qualquer negócio para obtê-la no elã de sustentar o seu malévolo vício, acometido pelo desespero e da necessidade mórbida de usá-la.
Era exatamente o caso daquele cirurgião, aliás, diga-se de passagem, um bom cirurgião...
Dr. Chagas adquiriu dívida com Marcos que, se comprometeu também com a máfia de traficantes e, sem o menor escrú-pulo jurou matar o Dr. Chagas...
Mário, nem imaginava que seu tio Marcos estava metido no mundo do crime e muito menos envolvido com o médico.
Juarez deu sua própria vida para salvar a vida do irmão, numa quermesse, encontravam-se, Marcos e Juarez, quando repentinamente aparece um jovem de 24 anos de idade e, diz:
- Marcos, você vai morrer!
Juarez, tenta apaziguar o iracundo mancebo, a ele comple-tamente desconhecido, porém, o insistente assassino, tei-mava em tirar a vida de Marcos, enquanto, Juarez tentava uma negociação, até que se propôs morrer no lugar do irmão, dizendo ao jovem, já que você insiste em matar o meu irmão, a quem eu muito amo, então terá de me matar primeiro!
Não deu duas, pum, pum, pum...
Bigode, não pestanejou, cravejando o corpo de Juarez de balas do seu 38, no instante em que Marcos fugia.
Marcos carregava grande sentimento de culpa pela morte do irmão, sendo que revelaria o fato ao Dr. Chagas que, ma-treiro tirava agora proveito dos sentimentos do parentesco de tio e sobrinho etc.
Chagas, além do mais, fora professor de Mário e Maria.
Após alguns almoços e jantares a convite do médico, ouviu-se o lamentável pedido de socorro.
- Mário, você tem um tio chamado Marcos, irmão de seu pai Juarez!
Mário, meio estouvado e surpreso, replica:
- Como, professor, você conhece minha família?
- Pois é, Mário, por ironia do destino, seu tio Marcos me jurou de morte!
- Não estou entendendo Dr. Chagas, há muito tempo não me encontro com ele, aliás, gostaria muito de revê-lo, já que é o único parente mais próximo que restou de minha família, posto que não tenha pai nem mãe e sou filho único.
- Ao me fazer este grande favor, terá também essa opor-tunidade de reencontrá-lo.
- Bem, vamos esclarecer os fatos, o que é que está havendo?
- Jamais gostaria de revelar isto a alguém, não fosse minha situação, pela qual corro grande risco de morte.
- Sou dependente de cocaína, e o seu tio Marcos, é o meu fornecedor.
- O quê?
- Você está me dizendo que o meu tio Marcos é um trafi-cante?
- E que você é um usuário?
Retruca-lhe o médico afirmativamente:
- Isso mesmo, filho!
- E, você usa droga da pesada?
- Sim, meu amigo Mário.
Mário reluta com a idéia de aceitar os fatos, e diz:
- Realmente não dá para acreditar... Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto, Dr. Chagas...
Responde-lhe o cirurgião:
- Não estou brincando, tudo o que estou aqui falando é a mais pura verdade!
Retorquiu-lhe Mário, meio furioso:
- Bem, onde eu entro nessa história maluca?
- Eu sei de toda essa história de sua família, porque Marcos me contou sobre a morte de seu pai, e também me revelou ter um enorme peso na consciência, sobre tudo o que acon-teceu, e sabedor do apreço que tem por você, coisa que você nem imaginava...
- Peço-lhe, salve minha vida.
Mário, muito irritado, diz ao médico:
- Isso é a mai reles chantagem, doutor!
A resposta lhe é iminente:
- Entenda como você quiser...
Mário, sem saída, já pensando nas conseqüências que pode-riam resultar de uma negação de sua parte, pergunta:
- O que devo fazer?
- Terá de levar em meu lugar, o respectivo pagamento e, que será em cocaína pura, exigência do seu tio, pois, temo ser uma cilada para me acabar com a vida, embora, essa droga pertença a uma quadrilha rival a qual, doravante exige que me transforme também em traficante, e a ela já citei seu nome e a sua história familiar.
- Aproveite a oportunidade, e veja aquele fotógrafo dentro daquele carro o qual deve ter filmado nossa imagem, e gra-vado a nossa conversa, já que trago comigo um microfone da quadrilha rival da de seu tio Marcos.
- E agora?
Pensou o jovem Mário:
- Bem que estava desconfiado de que atrás de tudo isto havia uma intrincada armação, um homem como Chagas, não se revelaria aleatoriamente com qualquer João-ninguém como eu, seu aluno, sem um forte anteparo.
Mário sentiu-se apunhalado pelas costas, por quem deposi-tara amizade e confiança, e sem ter outra saída, aceitou a escabrosa missão, estava encurralado.
No dia da entrega, noite escura, lugar ermo, com o carro do médico e uma pasta cheia de cocaína, lá vai Mário, que tinha o mesmo biótipo de Chagas.
Chagas havia estudado os mínimos detalhes, voz, andar, roupas, etc. Para que nada desse errado na entrega daquela maleta de executivo empanturrada com a farinha do diabo.
Ninguém da parte de Marcos sabia do que estava aconte-cendo, do que estava armado.
Mário aproxima-se do local, enquanto Dr. Chagas liga para o celular de Marcos, e lhe diz:
- Marcos, é Chagas, esse que está se aproximando de você, está levando o pagamento integral de minha dívida com você, portanto, não lhe faça nenhum mal, já que ele é o seu único sobrinho, filho do seu querido irmão Juarez.
- Você deve conhecê-lo, é o filho único de Juarez, e se chama Mário...
Agora, era Marcos com a mente tisnada, ao mesmo tempo em que se alegrava por poder rever seu sobrinho.
Já parecia conhecer o seu sobrinho, como alguém familiar, pelo andarilhar e pela conversa, e acabou ciente de tudo, embora, pensasse que seria mais uma das artimanhas do Dr. Chagas.
Marcos ficou realmente irritado, pois, o médico, além de envolver seu querido sobrinho, que muito lembrava seu ir-mão, menosprezava sua integridade de traficante.
Mário, ao aproximar dos bandidos, após sair do carro, vai logo chamando pelo tio, enquanto um dos capangas de Marcos percebe ser outra pessoa, e o alveja pelas costas, Mário cai, Marcos alucinado, atira no seu capanga acertando-o mortalmente.
Agora a situação se complicara muito para Mário, ferido, teria de ser cuidado pelo tio Marcos.
Desesperadamente, movido por sentimento paterno, Marcos leva Mário à sua casa, e em seguida o interna para que pas-sasse por uma cirurgia, a qual, por mais uma ironia do desti-no, fora efetuada pelo Dr. Chagas, que deu tudo de si, sem manifestar absolutamente nada ao seu paciente, tratando-o como mais um estranho.
Veja o que faz a droga, Chagas, na verdade não desejava que acontecesse nenhum mal a Mário, mas, em arriscar sua pele, pelas suas atitudes de dependente, preferiu envolver um inocente, porém, estava fazendo de tudo para salvá-lo...
Mário foi se recuperando ali naquele hospital de primeiro mundo, sendo assistido pelo tio e pela esposa Maria, que esperava o seu primeiro filho o qual se chamaria Carlos.
Impressionante é, a força do mal dominando nossas vidas, matutava Mário...
Pois, passou a receber visitas de pessoas estranhas e, uma dentre elas foi a de uma bela jovem chamada Bernadete, que lhe trazia um belo ramalhete de flores e um cartão muito amável, insinuando pedido de desculpas pelo ocorrido.
Marcos, não dava as caras por lá, em contrapartida, Mário recebeu a visita de um senhor muito elegante, que se iden-tificou como assistente social do hospital, descrevendo-lhe Maria e sua gravidez, no intuito de aliciá-lo ao tráfico, e lhe fala:
- Mário, como assistente social aqui deste hospital, posso fazer muito por você, por Maria e pelo seu filho que está para nascer, pois, Julião quer conhecê-lo, é o nosso respon-sável, quanto a mim, pode me chamar de Augusto, e amanhã, receberá a visita de Vera, minha esposa, que tem dado toda assistência à sua Maria.
Foram amigos de infância, que agora queriam passar por pessoas desconhecidas.
Que situação embaraçosa se metera o casal Mário & Maria.

O seqüestro

Mário, já bem recuperado, é surpreendido por um seqüestro, é levado à presença de Julião, que lhe dirige mansamente a palavra:
- Estimo suas melhoras, Mário!
Não restava alternativa a Mário, não ser agradecer a “cor-dial” recepção e como dá para perceber, era uma situação irônica.
- Grato senhor Julião!
- Mário, você deve estar surpreso e curioso, mas, não temos muita culpa, o destino o colocou no nosso caminho e, queira-mos ou não, não há retorno, meu amigo.
- Sem mais delongas, você trabalhará para nós!
E, nós cuidaremos muito bem de sua saúde, e não atiraremos em você como fez o seu tio Marcos, a não ser que se faça muito necessário, e concluo: você é bem-vindo, porém, não mais verá o meu rosto.
Ficarão juntos, você, sua esposa, Augusto e Vera, já que agora podemos relembrar de suas infâncias...
Mário & Maria se integram ao grupo, sem sequer terem a chance de explicar os fatos a Marcos, o qual já tinha ciência de tudo e, jamais inculpou o casal, porém, Dr. Chagas não foi perdoado, sendo assassinado logo em seguida aos acon-tecimentos...
A adega

O tempo foi passando e, Mário & Maria tornaram-se refina-dores de drogas, juntamente com Augusto & Vera.
Nos porões do casarão, o bisavô de Mário trabalhou longo tempo, escavando e dinamitando o subsolo, e com cinzeis artísticos da cantaria de antanho, concluiu sua tão sonhada adega de 300m2, a qual se transformaria no laboratório de refino de drogas, jamais Giácomo, o velho italiano vinicultor imaginara que isto pudesse acontecer com sua adega e seu bisneto.
Continuariam morando no paradisíaco local, posto que para Mário, nada iria mudar, pois nascera naquela casa e nunca dela saíra, a não ser nos tempos de faculdade, onde conhe-cera Maria, e a maior desgraça de seus dias, que fora o submundo das drogas.
Fora um destino escabroso.
- Por que foram levados a caminho, diferente dos de seus pais?
Os pais de Maria eram forenses, mãe advogada, famosa e atuante no metiê, pai ilibado juiz de direito.
Os pais de Mário, apesar de terem nascidos em berços de ouro, eram médicos, no tempo em que portar um diploma era ser possuidor de grande status.
Nos dias hodiernos, até isto se tornou comércio, com raras exceções.
Por força do destino, ou por algum resgate cármico, o casal fora plenamente aliciado ao comércio ilícito de traficar drogas.

O nascimento de Carlos

Nasce o nosso personagem, meia-noite, e, noite de verão, vem ao mundo uma saudável criança, filho único, sendo muito paparicado pelos pais.
Verdadeiro orgulho da família.
Devido aos fatos, Mário mandou cercar com muro de 2,5m de altura uma área de 2500m2 no elã de isolar a refinaria, do haras onde criava seus cavalos de montaria e outros que tais, empreendimento tradicional da família, que servia de fachada perfeita ao escuso negócio do crime.
Não ostentavam exageros sociais, levando a vida de seres simples e normais, acima de qualquer suspeita.
Todos esses acontecimentos contribuíram para que o casal deixasse a medicina voltando-se completamente às drogas, enquanto um capataz-administrador chamado Gerson, vete-rinário, cuidava dos animais e outros afazeres inerentes ao haras.
Ali existia uma administração bem sedimentada no haras, de modo que, o casario ficava isolado de tudo, e naquele espaço murado somente entravam as 5 almas: Mário, Maria, Carlos, Augusto e Vera.
Muitos detalhes foram revistos no casarão, pelos chefes da máfia, que esmeravam nos mínimos detalhes na região dos responsáveis: Mário & Maria.
Pela imposição dos traficantes a organização ali no casarão, seria mantido no mais velado sigilo, enquanto as cinco almas portar-se-iam como pais exemplares e honestos cidadãos locais, essa era a camuflagem...

Os dez mandamentos:

E, todos, sem exceção, teriam de se portar à maneira muito honesta, como verdadeiras pessoas de bens, como manda o figurino de uma sociedade, e ai daquele que não cumprisse à risca este mandamento, seria fulminado impiedosamente, pela máfia da droga.
Aliás, tinham eles um código de “ética” com 10 mandamentos, até para que se lembrassem da lei de Deus.
Pois, todos nós, quando ouvimos falar em dez mandamentos, lembramos impreterivelmente das leis de Deus, lei muito difundida na mente religiosa.
O grande chefão fazia uma palestra uma vez por mês, na maléfica intenção de lavar as mentes de seus subalternos, além de qualquer tortura, que se fizesse necessária.
Vamos então aos mandamentos:

1. Não trair o pacto de sangue
2. Jamais dedurar alguém do grupo
3. Dar a vida pelo tráfico de drogas
4. Jamais usar drogas
5. Viver exclusivamente para o tráfico
6. Respeitar a hierarquia do grupo
7. Matar, ou morrer pelo grupo
8. Amar o grupo acima de qualquer coisa, até mesmo da própria família
9. Ser mutilado pelo chefe, ou a seu mando, em qualquer situação de traição ou covardia.
10. Pena de morte ao traidor, em qualquer circunstância.

Um decálogo redundante, mas, que ninguém ousava retificá-lo, posto que fosse uma grande ofensa ao chefe, como ocor-reram tempos atrás com Zeferino, um camarada do grupo que, ousou mexer na lei e, foi cruelmente trucidado pela violenta quadrilha, que apesar de crudelíssima, sempre ad-vertia o neófito do grupo a nem pensar em criticar a lei, pois, seria sumariamente julgado pelo décimo mandamento da lei mefistofélica.
A primeira pergunta feita ao novo candidato a membro do grupo era, se usava droga, e se usasse, não poderia perten-cer ao grupo, quiçá, não fosse apagado da face da Terra, como providencial queima de arquivo.
Situação complicada de Mário & Maria, que eram compelidos a praticar o tráfico, sem a menor opção, pois, se fugissem, o bando os pegaria, pois, era uma horda, pertencente ao maior cartel internacional de tráfico de drogas.
Mário e Maria cuidariam de Carlos, enquanto Augusto e Vera seriam seus caseiros cuidando dos jardins e de outros detalhes e como babás de Carlos também...
Mas, a maior atividade dos casais era o refino da droga no subsolo da casa, na dita adega.
Carlos caíra de pára-quedas naquela esdrúxula e incômoda situação.
Pacto de sangue

Os quatro elementos foram obrigados ao pacto de sangue, um ritual macabro se fazia nessa ocasião, ao som de estra-nho e horripilante som.
Foram tatuados embaixo do braço esquerdo, e no mindinho da mão esquerda, no braço, mais precisamente na axila, via-se a figura tétrica de uma caveira com dois ossos do ante-braço sobreposto em xis, simbolizando a morte, e no dedi-nho, um pingo de sangue, na cor de sangue, onde se usava um anel para disfarçar seu emblema maléfico.
Cujo anel, em aço inoxidável simbolizava em baixo relevo um crânio humano.
Quando um membro do clã encontrava-se com outro, era somente tirar o anel para se identificar e na lei da turba, era contundentemente proibido sonegar essa informação com pena de se pagar muito caro, quiçá, com a morte.
Os quatro escondiam ao máximo esses sinais.
Mário e os demais quase não saíam da casa, entravam e saíam da adega, transformada em laboratório.
Longos anos se passaram, e Carlos sempre curioso com a-quela adega, via somente entrar e sair muitos tonéis de car-valho, porém, quando pedia explicações a seus pais, eram unânimes em dizerem ao garoto, que aquele local era para a maturação dos vinhos e, para fazer jus àquela lorota, toma-vam bons vinhos adulterando os rótulos das garrafas.
Carlos, apesar do haras e dos belos cavalos, estudou biolo-gia, amava a vida e a natureza, ausentou-se uns anos do local para retornar formado com mestrado e tudo mais, optando em ministrar aulas nas escolas da região, enquanto seus pais e comparsas continuavam empenhados no tráfico.
Sobre aquela estranha adega e, para matar sua curiosidade, Carlos queria porque queria adentrá-la e, era barrado pelos seus pais, que lhe diziam que para entrar naquele lugar teria de ser grande conhecedor de vinho, explicando-lhe que um som diferente poderia interferir no sabor do precioso lí-quido, e que Baco, o rei da orgia e do vinho não ficaria con-tente com tal atitude.
Porém, preparam o ambiente por três vezes, quando houvera escassez da droga, e permitiram a entrada de Carlos, que nada viu de anormal, além de tonéis e vinhos...

A verdade vem à tona

Certo dia, Maria carregava o camburão com as respectivas drogas... Carlos circulava por perto e trazia um livro em sua mão, enfim estava lendo-o enquanto andarilhava.
Quando de repente, Maria deixa cair um saquinho, desses de se colocar pães, e, cai exatamente sobre um limpador de solas de sapatos, o velho limpador de pés, onde existia uma lâmina nova e semi-afiada, sendo suficiente para espargir vários papelotes pelo chão.
Carlos, fez ignorar os fatos, despistando, como se nada vis-se, porém, notou o fato e o nervosismo de sua mãe ao ajuntá-los desesperadamente.
Maria também notou muita discreção no filho, e isso a fez mais apreensiva ainda.
O camburão era um carro bem antigo com o qual Mário se precatara em conservá-lo, até para não chamar atenção, às vezes até o chamava de museu ambulante.
A droga era negociada a alguns quilômetros dali, conforme orientação da cúpula.
Aos demais funcionários do haras sempre pairava um misté-rio no ar, porém, comentava-se pouco a respeito da vivência daquela esquisita família composta de cinco pessoas, alguns achavam que era uma família consangüínea.
O segredo era absoluto, tendo em vista o pacto de morte, ou de sangue, haja vista com certa freqüência a execução de alguns insurgentes membros do grupo.
O todo poderoso chefão, exigia segredo absoluto sobre suas transações, e quando alguém dava com a língua nos dentes, pronto, pagava com a vida.
Em reuniões, sem mostrar o seu rosto, Julião passava suas breves palavras aos seus súditos que, continuavam o ritual de muitos discursos.
No local do casario, não mantinham nenhuma negociação nem conta bancária, nada, toda a grana do tráfico ía para um lugar seguro.
Exceto negócios referentes ao haras, que eram bem-vindos, para a respectiva fachada e lavagem de algum valor inerente ao narcotráfico.
Apenas o “inocente” Carlos continuava com suas aulas de biologia, até que num dado momento refletiu sobre o seu salário, sua condição de mestre vilipendiado por alguns alu-nos marginais, e o mestre estava próximo de tomar uma drástica atitude, que mudaria profundamente sua vida.
Num dos muitos encontros, e na ausência de Carlos, Maria comentou com os demais, o ocorrido com os papelotes espa-lhados aos pés de Carlos etc.
Vera, preocupada, indaga:
- Então, Carlos já sabe de tudo?
Responde Maria:
- Para falar a verdade, não sei...
Mário e Augusto, também ficaram apreensivos com o fato.
No mesmo dia do acontecido, logo que seus pais saíram com o camburão, Carlos foi até o local do limpa-pés, enquanto Vera e Augusto estavam dentro da adega, estava deveras pensativo sobre o que vira, qual sua surpresa, lá estava um papelote no gramado, incontinentemente desembrulhou o pequeno invólucro e topou com a droga, era o pó, que jamais vira em seus dias já vividos, revivendo cenas de filmes de traficantes, quando um chefão qualquer coloca o dedo mínimo sobre o pó, e leva-o à língua para analisar a sua pureza, ou coisa que o valha.
E, assim o fez, cuspindo fora a saliva com repúdio asqueroso, por se sentir filho de traficantes.
Carlos, agora se sentindo ultrajado, e traído pelo sangue de seu próprio sangue, revolta-se profundamente com seu pais, mas, preferiu vingá-los de forma irônica.

O aniversário

Quando algum deles aniversariava, preparavam os comes-e-bebes somente entre eles, e mais ninguém.
Carlos completava 27 anos, e festejavam o seu natal, quando Mário pega um fino vinho em cuja garrafa figurava o brasão dos “Carvalhais”, e foi logo fazendo apologia sobre sua idade e envelhecimento, e servindo elegantemente a todos, quando chega à taça do filho, fazendo a saudação costumeira, é replicado por Carlos que trocou o verbete: saúde por: morte.
Aquela estranha saudação reverberou aos ouvidos presen-tes, como um sinal de alerta, relembrando o pacto de sangue.
E, na seqüência, Carlos completa sua fala:
- Este “bouquet” misturado à farinha da casa, deve ficar um espetáculo sem igual.
A preocupação tomou conta do ambiente, entreolharam-se procurando desvirtuar o assunto, porém, Carlos foi enfático:
- Pessoal, vamos acabar com essa palhaçada, tamanha hipo-crisia, vocês acham mesmo que estão me enganando?
- Há muito tempo observo seus rituais, suas mesmas tatua-gens, seus mistérios, etc.
Sou um subproduto das drogas, é isto que sou...
Comoções, arrependimentos, e choros, e as explicativas dos antigos acontecimentos.
O ser humano sempre arranja uma desculpa esfarrapada para justificar seus erros.
E assim, foi com Carlos também, que se estribou na sua condição de traído e logo apelou:
- Já que sou produto dessa merda, quero participação nos lucros.
Agora fala Augusto, seu segundo pai:
- Carlos, você é como meu filho, que ainda não tive, e está se propondo entrar no clã...
Afirma Carlos:
- Sim!
- Vocês me criaram para esta finalidade, não foi?
Quiseram dissuadi-lo da idéia, mas, foi inútil qualquer es-forço, Carlos se locupletava em seus caprichos, indireta-mente punindo sua família, porém, se atolando no lamaçal do crime também.
Passou pela iniciação da horda, e foi destacado a uma locali-dade fora da circunvizinhança como era praxe.
Recebeu da máfia algumas escolas para lecionar, para não levantar suspeitas.
O tempo passava, quando dois fatos surgiram para nova mu-dança na vida de Carlos e de toda sua família.

O caso Rosicler

Certa noite apareceu em seu apartamento uma bela jovem chamada Rosicler.
- Boa noite, professor Carlos.
Carlos meio arredio retribui-lhe a saudação.
- Boa noite, em que lhe posso ser útil?
- Você, não se lembra de mim?
- Sua fisionomia não me é estranha...
- Estudei apenas um mês sob sua boa orientação, sou a filha do prefeito... Recorda-se?
- Ah... Sim, Rosicler!
- E, o seu pai ainda é prefeito?
- Não agora, mudou-se para cá, onde dirige suas empresas.
Carlos convida a jovem para entrar, e curioso estava por ser encontrado por alguém de sua velha cidade, e que fora sua aluna.
Ajeitaram-se nos sofás da sala de estar e, Carlos repete a óbvia pergunta:
- O que posso fazer por você?
- Professor, você pode, e pode muito!
- Sou muito amiga de um médico, doutor Enrico e, nem sei como lhe falar...
- Desembucha, vai...
- Bem, ele é um dependente terminal, está com “AIDS” te-nho cuidado dele, como sua enfermeira há um bom tempo, sabe...
No decorrer da história, Carlos se arrisca:
- Se você não me disser em que posso ajudá-la, fica difícil.
- Bem, ele necessita de cocaína.
Carlos faz cara de admiração, e solerte lhe replica:
- Como vou poder lhe ajudar assim você me compromete.
- Quem lhe deu meu endereço?
Então, lhe responde a jovem:
- O mundo é pequeno, e não direi nada sobre quem me enviou até você, professor... Mas, é alguém que consome suas drogas e que, penalizado com a situação do Enrico deu-me a dica, aliás, também já foi seu aluno tempos atrás.
Era tanta gente viciada, que Carlos procurou nem prestar muita atenção na fala da jovem.
Notou em Rosicler algum sintoma de usuária, e não lhe pou-pou também:
- Quanto vai ao doutor Enrico, e a você?
Jogando com a jovem, ao lhe perguntar, e a você?
- Sim, professor, não vou lhe esconder a verdade, sou tam-bém dependente.
Começa a chorar, enquanto Carlos tenta consolá-la com a pergunta:
- Por que chora, você é muito bonita e tem a vida toda pela frente, é bem aquinhoada, podendo até fazer um tratamento e deixar o vício...
- Carlos, sou também médica e, clinicava com Enrico, ele era o meu anestesista preferido, um excelente profissional.
Quero que, um dia desses, você venha a conhecê-lo, e vai ver que ele é uma pessoa especial.
- Rosicler, você continua clinicando?
- Não, não me acho apta, abandonei até a casa de meus pais, onde morava, com o enorme contragosto de meus queridos pais, porém, o vício falou mais alto, fugi, e meus pais nem imaginam onde moro.
Carlos forneceu-lhe a droga, na confiança, já que Rosicler estava sem dinheiro.
Com certeza, vai me procurar novamente, pensou Carlos.
Passaram-se alguns dias, e lá estava Rosicler novamente, como previra Carlos, desta vez endinheirada, formulando o convite para Carlos ir conhecer Enrico.

A mudança

Foram ao encontro do médico Enrico, que morava com Rosi-cler, amigos de droga, mas Rosicler cuidava do amigo que, ela incitara ao vício.
Enrico, com a doença da alma, o orgulho, mais seu estado terminal, estava simplesmente calamitoso.
Carlos, apesar de acostumado com algumas atrocidades da máfia a qual pertencia, ficou simplesmente abalado ao ver Enrico em pele e osso, e conjeturou com seu espírito, como fui imbecil ao entregar-me ao capricho que recebi de meus pais, quantos males devo ter causado à tanta gente, como é o caso do Dr. Enrico.
Emocionado, chorou copiosamente e acompanhado de Rosi-cler, ficaram abraçados prolongadamente.
Doravante, Carlos se apaixona por Rosicler, que corresponde aos seus anseios.
Pela primeira vez, Carlos deseja fortemente deixar o crime, e externa seu desejo a Rosicler que, imbuída de profundo amor fraternal, diz, emocionada:
- Há muito tempo tenho este desejo, Carlos, faltava você na minha vida.
Dois problemas interpunham aos dois.
O vício de Rosicler, e o pacto de sangue de Carlos.
Com o decorrer do tempo, Carlos deu muito afeto e carinho a Rosicler, como nunca ela tinha visto, pois, seus pais davam-lhe de tudo, porém, não dispunham de tempo para lhe dar amor, posto que estivessem cuidando do status e dos bens materiais.
Agora, os dois cuidavam de Enrico, e o fato mais forte o-corrido entre os dois, foi a morte de Enrico, nunca viram tanta hipocrisia num funeral só.
Rosicler cuidara do féretro em todos os seus trâmites, até porque morrer é algo complicado, a burocracia é vergonhosa.
No guardamento do corpo, lá estava amuada num canto uma senhora, era a mãe do finado.
Mais ninguém da família...
Aquelas ocorrências foram decisivas ao casal de amanceba-dos: Carlos & Rosicler.

Voltando no tempo

Mário & Maria, foram criados na mesma localidade, junta-mente com Augusto & Vera, eram amigos de infância.
Estudaram nas mesmas escolas e até na mesma universidade, onde se graduaram em biologia, assim se nos parece que o destino uniu as cinco almas no caminho tortuoso das drogas.
Mário & Maria, quando intimados por Julião, para fazerem parte de seu time, já que existia Marcos na parada, menos-prezaram o convite, e quase são apagados pela resistência, Mário, Maria, Augusto e Vera, estavam numa lanchonete, quando foram surpreendidos por dois facínoras armados que, os obrigam a entrar num carro e os levaram à presença de Julião, sendo todos aliciados ao crime.
Agora, enquanto Carlos e Rosicler lutam para sair do crime, os demais se atolam mais e mais no tráfico.
Alguns meses se passaram e Carlos, com a grana do próprio tráfico, ajuda Rosicler a ir deixando paulatinamente o vício, enquanto, pensa seriamente em deixar o tráfico.

A encomenda

Naqueles dias, o telefone toca alucinadamente, e num da-queles telefonemas, alguém faz uma encomenda em nome de Julião, e Carlos faz sua mala com o grandioso pedido de drogas, e como era num lugar bem conhecido por ele, nada de anormal.
Quando adentra o recinto, recebe voz de prisão, a quadrilha havia sido desbaratada, e o último deles era Mário.
Esteve tão ocupado naqueles últimos dias, que nem sequer pôde desconfiar de nada.
Carlos pegou alguns anos de cadeia, porém, Rosicler respon-deu seu processo em liberdade.
Neste espaço de tempo, num outro presídio, encontraram os corpos de Augusto e Vera dependurados pelos pescoços dentro de suas celas.
- Vingança?
- Quebra do pacto?
Eram as facções criminosas, trabalhando à ocultas nos pre-sídios, enquanto Mário, Maria e Carlos cumpriam suas penas...

A fuga

Por bom comportamento, Carlos recebeu indulgência de Na-tal, para nunca mais retornar à prisão.
Agora a médica Rosicler, era muito amiga de um outro mé-dico alemão: Dolph, um cirurgião plástico, ex nazista, que abraçou a causa de Rosicler e Carlos, e que escondia Carlos o “indultado”, em sua residência.
Carlos estava disposto a tudo para ajudar os dependentes de drogas, mas, sua vida já não lhe pertencia mais e, os chefões já estavam em liberdade.
Em reunião com Dolph, Herman, Carlos e Rosicler avençaram transformar Carlos radicalmente a seu próprio pedido.
Dolph, grande cirurgião plástico, chegado à novas experiên-cias...
Herman, ortopedista de primeira linha.
Encurtaram-lhe a perna esquerda, queimaram o local das tatuagens, enfim, cuidaram em desfigurá-lo da melhor ma-neira médica possível.
Forjaram-lhe nova documentação, e simplesmente Carlos deixou de sê-lo enfaticamente.
Simularam um grave acidente, de onde ele sairia queimado profundamente, portanto, desfigurado e morto etc.
Agora, Carlos era o doutor Ênio, grande psicólogo clínico que passaria criar um espaço para curar drogados.

O caminho da libertação

Este era o nome da fundação na qual participava ativamente, quando repentinamente toma uma decisão através de um bom advogado, que consegue trazer seus pais à sua clínica para um tratamento, já que agora eram viciados também.
Corre de cá, corre de lá, burocracia, etc. Até que conseguem o feito, permanecem ali por apenas quinze dias, e de-sanimados com a aparência do filho resolvem fugir do sana-tório etc.
A admiração de Rosicler pelo seu amado Carlos, era assus-tadora, tinha-o como seu mestre maior.

O final das cinco almas

Mário & Maria foram assassinados por policiais ligados ao tráfico, fato que muito mexeu com a cabeça de Carlos.
Restou Carlos, que agora era Ênio.
Numa bela tarde ensolarada, Ênio, Dolph, e Herman, cruzam uma bifurcação, perto da Fundação, dentro de uma bela Mercedes de propriedade de Dolph, e são fuzilados literal-mente por elementos da máfia do tráfico, morrendo dentro do veículo que veio colidir com outro carro, ceifando mais duas vidas, vítimas inocentes.

Agora, Rosicler dá continuidade ao benemérito sanatório: “O Caminho da Libertação”.

Aqui se encerra a vida das 5 almas, que somente a lei de causa e efeitos, pode explicar suas trajetórias.

Conclusões:

O nosso mundo está perdido nas drogas, este é o subterfú-gio de crianças, jovens e velhos.
Não dá para imaginar a classe médica perdida nas drogas, claro com as devidas exceções, mas, pelos noticiários, es-tamos a par de que uma grande fração da classe, é depen-dente química.
- Então, quem vai cuidar dos nossos drogados?
Temos vistos nos noticiários que, filhos matam os pais, pelas drogas, recentemente um jovem matou sua avó, pelo estrito motivo de necessitar de sua droga, ou por drogar-se sobremaneira...
Fala-se em infernos e demônios, ei-los, bem perto de todos nós, nos bancos escolares, nas portas das escolas.
Se não nos precatarmos, estaremos fritos, até porque onde está a droga, se estabelece o crime hediondo.
Quadrilhas de traficantes atacam a própria polícia, pois estão mais bem municiadas que a polícia, e o que é pior, in-filtrados nas quadrilhas estão muitos policiais, então imagi-nemos: policiais bandidos, que contra-senso...
Ora, isto é assunto para o governo resolver, mas, eles, os mandatários estão sem o respectivo tempo, estão tentando cassar seus deputados, senadores, através de CPIs que pouca vergonha.
Quem nos governa, é o bandido também, por isto insistimos que; democracia é literalmente governo de demônios...
- Como ficamos nós povo, em quem confiar?
- Em bandidos?
- E, os honestos deputados, e policiais, e juristas, cadê-los, ou melhor, “cadelos” mesmos, não vão combater os bandidos do poder?
- Até quando vamos ficar na expectativa de uma vida digna?
É a guerra civil pronunciada na vida moderna, de uma rica nação.
- Você sabe por quê?
Porque, poucos ganham muito, e muitos ganham pouco...
O salário mínimo é vergonhoso, perto do salário de um ho-nesto deputado, imagine só o do desonesto...
- E, aquela cidade maravilhosa, cheia de encantos mil?
Tornou-se covil de ladrões e salteadores, de assassinos desalmados, armados até aos dentes...
Mas, não é nenhum privilégio do Rio de Janeiro, não, o negó-cio infestou o Brasil de cabo-a-rabo, infelizmente.
As pacatas cidades dos interiores dos estados estão cor-rompidas à Sodoma e Gomorra, as quais Deus as destruiu.
Na realidade, se formo-nos basear em Sodoma, Deus terá de destruir o mundo todo, tal a desordem generalizada, embora, digam o contrário.

Que Deus olhe por todos nós.
Amém
Conto de auto-ajuda
Copirraite por j.b.campos
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